
Incertezas na economia nacional podem tornar insustentável o endividamento público
O Banco de Moçambique alerta que a dívida pública nacional, agora situada em 435,6 mil milhões de Meticais, um aumento de 20,1 mil milhões em relação a dezembro passado, atingiu um patamar preocupante e precisa de controle urgente para evitar a sua insustentabilidade. Apesar desse quadro, as reservas internacionais continuam em níveis considerados confortáveis.
Segundo o governador do banco central, Rogério Zandamela, a capacidade do país de honrar seus compromissos externos dependerá diretamente do desempenho da economia, que enfrenta um cenário de incerteza impulsionado pelos protestos pós-eleitorais.
Há três meses, manifestações tomam conta do país, resultando em destruição de bens públicos e privados, afetando diretamente o ambiente de negócios.
Zandamela enfatizou que a estabilidade econômica só será alcançada se houver crescimento significativo da economia, aumento das receitas e maior disciplina fiscal, reforçando a necessidade de reformas estruturais que impulsionem o investimento e melhorem o ambiente de negócios.
"Quando essas reformas forem implementadas, poderemos dizer com segurança que a economia começará a crescer e a acelerar", afirmou o governador.
O dirigente destacou que a solução para a crise exige um esforço multissetorial, sendo o Governo o principal condutor do processo.
Impacto dos protestos no sistema financeiro
O Banco de Moçambique ainda não divulgou dados concretos sobre os prejuízos causados pelos protestos, mas reconhece que o setor financeiro foi gravemente afetado. Bancos comerciais registram perdas significativas devido à destruição de infraestruturas, incluindo agências bancárias e caixas eletrônicos.
Além disso, os impactos econômicos da crise começam a se refletir na inadimplência bancária, já que muitas empresas encerraram as atividades e dispensaram trabalhadores, tornando difícil a quitação de dívidas.
"O crédito malparado vai começar a aumentar, e isso pode ser um grande problema para o sistema financeiro", alertou Zandamela.
Banco central reduz taxa de juros para estimular economia
Na tentativa de mitigar os impactos da crise, o Banco de Moçambique anunciou a redução da taxa MIMO de 12,75% para 12,25%, diminuindo em 0,50% o custo do dinheiro para empresas e famílias. Além disso, reduziu os coeficientes de reservas obrigatórias para os passivos em moeda nacional e estrangeira, liberando mais liquidez para apoiar a recuperação econômica.
Contudo, a instituição alertou que as incertezas sobre a inflação aumentaram, destacando como principais riscos a tensão pós-eleitoral, os choques climáticos e o aumento dos gastos públicos.
Empresários reagem e cobram mais medidas
A Confederação das Associações Econômicas de Moçambique (CTA) saudou a redução da taxa MIMO, mas criticou a falta de medidas mais abrangentes para aliviar a crise econômica.
"A decisão é positiva, mas ainda conservadora. O Banco de Moçambique deveria pressionar os bancos comerciais a estenderem os prazos de pagamento das dívidas, considerando a difícil situação atual", afirmou Paulo Oliveira, da CTA.
O setor privado também denunciou a escassez de divisas no mercado e a dificuldade de acesso a crédito, responsabilizando o banco central por reter 1,8 milhões de dólares em reservas obrigatórias.
Suspensão de projetos dos EUA preocupa empresários
A suspensão de projetos financiados pelos Estados Unidos da América também gera preocupação entre empresários, que preveem um impacto negativo na entrada de divisas no país. O Banco de Moçambique, por sua vez, considera prematuro avaliar os efeitos da medida.
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Para Eduardo Sengo, diretor-executivo da CTA, os investimentos estrangeiros eram fundamentais para a estabilidade do mercado cambial e para a recuperação econômica, e a paralisação desses projetos pode agravar ainda mais a crise.
Apesar das incertezas, o Governo liderado por Daniel Chapo tem adotado medidas emergenciais para conter os efeitos da crise e estabilizar a economia, enquanto o país aguarda um desfecho para a crise política que desencadeou os atuais desafios econômicos.